terça-feira, 19 de maio de 2009

MEDÉIA.


Sábado passado fui ao teatro. Muito bem acompanhado, diga-se de passagem. Fomos assistir MEDÉIA. Medéia é uma daquelas tragédias gregas que sempre estiveram no meu subconsciente mas eu nunca tive ânsia para pesquisar a respeito. O que você sabe sobre a Medéia? Lembro-me da minha vó chamando garotinhos chatos de "Filhos de uma Medéia". Sei que ela preferiria chamar de filhos de alguma outra coisa, mas tudo bem... O ponto é que nunca perguntei o porque de Medéia. Só achava engraçado e pronto.
Ahm... teatro. Teatro, teatro. Teatro nunca foi minha "coisa". Grandes amigos fazem parte desse mundo e tentam me puxar pra dentro dele, mas parece que algo me arrasta pra trás. E nessa peça de sábado, dois grandes amigos estavam lá, no palco.
Não importa do que se trata em específico, filas pré-algo-que-antecipo sempre me causam uma dor de estômago. Dor confortável, costumo dizer porque não causa mal nenhum, só uma sensação de estranheza que marca o momento.
Certo, abrem-se as portas. De cara me deparo com fileiras de Doutores Caligari misturados com Yamibitos japoneses. Assustador e fascinante. Aquele sentimento pesado de choro, dor, perda, ausência, solidão... Você teria gostado muito dessa sequência inicial. Talvez tenha sido minha preferida. Talvez.
Esse talvez porque é algo que, pra mim, transcende a pergunta "Gostou ou não gostou?" Isso é tão vago quanto responder "Sim ou não". Complicado.
Medéia é um feiticeira que se entregou por completo prum sujeito que não lhe deu o devido valor. Separou-se dela e casou-se com a filha do rei do lugar onde viviam, alegando almejar uma vida mais próspera aos filhos. Aqui, Medéia é representada por toda uma cerne de personagens-atores, que tem como corpo concreto duas mulheres com personalidades contrárias, porém com os mesmos intuitos (afinal, trata-se do mesmo ser). Sinopses ridículas a parte (detesto aqueles textos que ficam atrás das caixinhas de filmes), eu mergulhei.
O grande amigo a quem me referi anteriormente fazia parte somente do coro alaranjado de servos-sentimentos. A amiga, por outro lado, esteve em evidência por diversos momentos e aí, e talvez somente aí, digo que me assustei. A intensidade era tamanha que não pude me arrastar pra trás. Pela primeira vez senti a proximidade do teatro que tanto me falam. Certo, minha bagagem é bastante modesta, mas preciso retratar minha primeira vez. As músicas a la MEDULA - sons do corpo e boca - que completavam o palco por vezes, somada aos fortes pisões uníssonos de todos os atuantes, formavam uma espécia de dança ritualística macabra que evocava tudo que de pior havia no mundo invisível em prol da vingança imortal, inadiável, inenarrável de Medéia.
Sim, ela mata os próprios filhos. Mas por amor, creio.
É difícil não misturar o que senti, com a parte crítica - e, reafirmo, vagamente crítica nesse campo - que surgem conforme o espetáculo se desenrola.
Pedi a ela alguns dias para digestão. Creio que está tudo digerido e assimilado, e o resultado está nessas palavras e no que mais não consegui expor aqui e guardei só pra mim.
Continuarei tentando. Continuarei lutando contra aquilo que me puxa pra trás, que me causa abstinência de todo esse novo mundo que surge diante de mim, o qual chamam teatro. Mas, infelizmente, o pináculo ainda não foi atingido.
Tudo bem. Enquanto isso, me levanto e aplaudo. Sinto-me feliz assim.

Makson Lima.

3 comentários:

  1. Que extrema essência hein?
    Magnifico é poder te dizer que me senti na peça...
    Como um instante de meiguice ou de atenção, não interessa, o importante é que o clima foi intenso por aqui..."aqui" deste lado!

    Coisas que só o meu amigo mestre consegue relatar!

    Belo texto!

    Fabiano Miranda.

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  2. Sinto-me lisonjeado e honrado pelo texto!

    E persistirei no meu intuito de leva-lo cada vez mais para dentro do "meu mundo teatral" e ainda estou lhe devendo o cerne: Plinio Marcos!

    Belo texto MAK-SAMA!


    Ps: Sr. Ludo Miranda, senti sua falta na platéia...

    Rafael Procópio.

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  3. "Tudo bem. Enquanto isso, me levanto e aplaudo. Sinto-me feliz assim."

    FASCINANTE!!!!


    Estou em dívida com Medéia. Até 31 de maio nos encontraremos.

    Abs.

    Rubens Romero (Rubão)

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