quarta-feira, 27 de maio de 2009

AMORES PERROS - Alejandro González Iñárritu


O acaso é mesmo algo fascinante: uma série de eventos paralelos, num misto de acontecimentos convergentes e concomitantes. Será mesmo obra do acaso? Existe acaso?
Amores cachorros, mais precisamente o cão Cofi. A periferia, a fina flor e o submundo, por um lapso de tempo, dão as mãos e caminham relva adentro.
Mas aqui é diferente. Mais ainda, porque você está lá. Tudo é tão plano detalhe, que o foco, o shutter, o ganho e todas essas porras não têm importância. Consegue entender tudo isso sem valia? A saturação exagerada da cena-semi-verdade é como se fosse um teletransporte. Sinto o cheiro do suor, da richa de cães, e do corte direto para a gema mole do ovo frito sendo deflorada por um pão surrado.
É isso que quero. Sentir que não estou aqui, mas que estou lá. É assim que se viaja para lugares outrora desconhecidos, e não com uma mala, uma passagem ou um punhado de cocaína.
Iñarritu te escancara um mundo periférico, de rotina suja, de se fazer a coisa certa através de modos errados.
Porque, cada vez mais, sinto que tudo é sentimento. Como demonstrar uma representação tão abstrata quanto o amor num mundo tão concreto e materialista como esse? Seja com dinheiro, com palavras ou com um tiro no peito, AMORES BRUTOS (Amores Perros - 2006, num português errôneo, de novo) tenta mostrar um meio de exteriorizar todo o emaranhado de caos infernal que existe no coração e na cabeça de todo e qualquer ser vivo pensante.
Não existe uma resposta para a pergunta que fiz em supra. Não. Existe uma resposta absoluta para a mais evidente das perguntas? Como pode haver, se num lapso de minuto, de segundo, de milésimo, os caminhos se cruzam, se transformam, se modificam e se deformam?
E viva o cinema dos três cs: cabeça, coração e culhão!

Makson Lima.

terça-feira, 19 de maio de 2009

MEDÉIA.


Sábado passado fui ao teatro. Muito bem acompanhado, diga-se de passagem. Fomos assistir MEDÉIA. Medéia é uma daquelas tragédias gregas que sempre estiveram no meu subconsciente mas eu nunca tive ânsia para pesquisar a respeito. O que você sabe sobre a Medéia? Lembro-me da minha vó chamando garotinhos chatos de "Filhos de uma Medéia". Sei que ela preferiria chamar de filhos de alguma outra coisa, mas tudo bem... O ponto é que nunca perguntei o porque de Medéia. Só achava engraçado e pronto.
Ahm... teatro. Teatro, teatro. Teatro nunca foi minha "coisa". Grandes amigos fazem parte desse mundo e tentam me puxar pra dentro dele, mas parece que algo me arrasta pra trás. E nessa peça de sábado, dois grandes amigos estavam lá, no palco.
Não importa do que se trata em específico, filas pré-algo-que-antecipo sempre me causam uma dor de estômago. Dor confortável, costumo dizer porque não causa mal nenhum, só uma sensação de estranheza que marca o momento.
Certo, abrem-se as portas. De cara me deparo com fileiras de Doutores Caligari misturados com Yamibitos japoneses. Assustador e fascinante. Aquele sentimento pesado de choro, dor, perda, ausência, solidão... Você teria gostado muito dessa sequência inicial. Talvez tenha sido minha preferida. Talvez.
Esse talvez porque é algo que, pra mim, transcende a pergunta "Gostou ou não gostou?" Isso é tão vago quanto responder "Sim ou não". Complicado.
Medéia é um feiticeira que se entregou por completo prum sujeito que não lhe deu o devido valor. Separou-se dela e casou-se com a filha do rei do lugar onde viviam, alegando almejar uma vida mais próspera aos filhos. Aqui, Medéia é representada por toda uma cerne de personagens-atores, que tem como corpo concreto duas mulheres com personalidades contrárias, porém com os mesmos intuitos (afinal, trata-se do mesmo ser). Sinopses ridículas a parte (detesto aqueles textos que ficam atrás das caixinhas de filmes), eu mergulhei.
O grande amigo a quem me referi anteriormente fazia parte somente do coro alaranjado de servos-sentimentos. A amiga, por outro lado, esteve em evidência por diversos momentos e aí, e talvez somente aí, digo que me assustei. A intensidade era tamanha que não pude me arrastar pra trás. Pela primeira vez senti a proximidade do teatro que tanto me falam. Certo, minha bagagem é bastante modesta, mas preciso retratar minha primeira vez. As músicas a la MEDULA - sons do corpo e boca - que completavam o palco por vezes, somada aos fortes pisões uníssonos de todos os atuantes, formavam uma espécia de dança ritualística macabra que evocava tudo que de pior havia no mundo invisível em prol da vingança imortal, inadiável, inenarrável de Medéia.
Sim, ela mata os próprios filhos. Mas por amor, creio.
É difícil não misturar o que senti, com a parte crítica - e, reafirmo, vagamente crítica nesse campo - que surgem conforme o espetáculo se desenrola.
Pedi a ela alguns dias para digestão. Creio que está tudo digerido e assimilado, e o resultado está nessas palavras e no que mais não consegui expor aqui e guardei só pra mim.
Continuarei tentando. Continuarei lutando contra aquilo que me puxa pra trás, que me causa abstinência de todo esse novo mundo que surge diante de mim, o qual chamam teatro. Mas, infelizmente, o pináculo ainda não foi atingido.
Tudo bem. Enquanto isso, me levanto e aplaudo. Sinto-me feliz assim.

Makson Lima.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

THE WOODS - Lucky McKee


Não é todo dia que me deparo com um belo filme de terror. Quando isso acontece, costumo me considerar um cara de sorte. Ao menos naquele dia. Hey, querido, sabe aquele horror clássico vitoriano que tanto defendemos? Aquele Vincent Price e aquele Peter Cushing inesquecíveis? Encontrei isso tudo em A FLORESTA (THE WOODS - 2006).
Uma garota rebelde nos anos 60 é uma garota rebelde não importa a época da história da humanidade, com a diferença de que, naqueles tempos, elas costumavam - ou eram obrigadas - a obedecerem os pais. Heather é mandada a um reformatório só para garotas entre as árvores. Lugar recôndito, isolado. Não vou estragar nada pra você (além de dizer que o EVIL DEADiano Bruce Campbell tem sim um papel aqui!), mas sinta já na capa do dvd (que, felizmente, traz a mesma arte do pôster para cinema) que trata-se de um filme com um gosto diferenciado. Existe algo na tonalidade de cores que me atrai. No lugar em si, no reformatório em si. Tem vezes que tudo que se pode querer é fugir; correr pra longe, com todas as forças. Mas e se depois de correr e correr fosse esse o lugar que alcançássemos?
A noite é fria e solitária, e o dia faz com que, numa espécia de paradoxo bizarro, se deseje a noite mais do que tudo. Sei lá se é porque tenho uma tara por ruivas, mas esse filme inspirou meu ego adormecido que trata só daquela parte de escritor fantástico que existe dentro de mim. Inspirado pela beleza de cenas que trazem a essência de garotas-atrizes tuteladas por velhas-bruxas... Mais uma vez, bravo, Lucky Mckee. Bravo. Traga-me MAY, traga-me THE WOODS. Traga-me.
Querido, desculpe o trocadilho imbecilóide, mas o diretor sendo Lucky, sou eu quem me considero sortudo por ter me deparado com esta pérola.

Makson Lima.

domingo, 17 de maio de 2009

MORRISSEY - You Are The Quarry


Muita coisa tenho ouvido, mas algo deve ser mais relevante do que outras. Principalmente quando na pilha de cds encontro algo não muito novo, mas que já significou muito e volta a significar. Sabe do que estou falando?
Estou falando do You Are The Quarry, álbum do mestre Morrissey.
Lançado em 2004, a obra transmite um clima bem intenso com melodias ardentes que invade o cérebro fazendo a essência flutuar por dias e mais dias em nossos ouvidos.
Este disco está longe de ser o mais fiel aos tempos de Smiths, e também está bem longe de ser um clássico, mas reflete um clima amigável levando para um mundo bem peculiar e distorcido.
Se não ouviu, corra!
Comece por America Is Not The World e tente não se apaixonar.

Fabiano Miranda.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

LAST DAYS - Gus Van Sant


As voltas sem seqüências do admirável GUS VAN SANT, não o sustentou na hegemonia que tinha há alguns filmes atrás.
È claro que a essência é pessoal e altamente insolente de minha parte, mas odeio a condição de ser regrado. Não gosto de assumir toda e qualquer tipo de culpa, mas não sou inconstante ao ponto de aceitar o clima insólito da proposta do autor.
A idéia produzida ficou guardada em minha gaveta por algum período. Falta de tempo, coragem, descaso e mais alguns fatores, foram os frutos de minha desmotivação.
Basear sua obra nos últimos dias do ícone de uma geração regada pela escassez cultural, era de se esperar mais. Dopei minha auto-estima e tentei alçar vôos através da proposta de câmera e desisti.
Parado como outdoor de beira de estrada.
LAST DAYS é como um reflexo do MARAVILHOSO – ELEPHANT, mas com a desordem de um diretor embriagado que perde o rumo de sua volta para o lar.
Perdido, inseguro!
GUS continua sendo um dos diretores de minha predileção, mas preciso assumir que esse filme é cansativo de assistir e duro de aceitar.
De positivo, talvez o pouco diálogo (Isso me atrai bastante) e a trilha final, um capricho a parte.

Fabiano Miranda.